sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Levo-te comigo

Sentei-me à sombra da árvore que em tempos era nossa, o nosso refúgio. No meu colo pousei o álbum de fotografias.
Estava frio, as folhas no chão corriam contra o vento, a árvore dançava, e o som daquela bela coreografia transformava-se numa intensa melodia.
Abri cuidadosamente o álbum. Fotografias, inúmeras fotografias ali guardadas, cobertas pelo pó. Esquecidas pelo tempo. Os meus olhos encheram-se de lágrimas. Todos os retratos ali presentes demonstravam o quanto fomos felizes, o quanto fomos unidos. Apesar de teres sido levado involuntariamente, eu sei que permaneci no teu coração até ao teu último minuto de vida.
Os meus cabelos grisalhos voavam, e as minhas lágrimas continuavam a deslizar pela minha face. Sentia uma sensação de não ter aproveitado todos os momentos que a vida nos proporcionou, sentia que ainda tínhamos muito mais para viver. Foste o único homem que amei, o único que eu permiti que explorasse todos os cantos do meu corpo. E agora estavas tu ali deitado num caixão, derrotado por um cancro, com uma pele pálida e gelada, num sono profundo.
Encostei uma das muitas fotografias ao meu peito e fechei os olhos. A tua imagem veio ao meu encontro, todos as rugas do teu rosto ainda estavam marcadas ao de leve. Nesse mesmo momento deu-se uma forte corrente de ar em que o teu cheiro acompanhava-a. Um turbilhão de sentimentos apoderou-se de mim, o quanto eu queria que estivesses comigo, o quanto eu queria acordar desse pesadelo.
A dor que sentia no meu peito era tão violenta, que me agredia até o meu coração ficar em carne viva. Não conseguia lutar contra a saudade, não conseguia lutar contra mim própria, contra a lei da vida.

Cancro, mas que raio de doença! Logo a ti meu Santiago. Tu que sempre foste marido e pai exemplar foste tirado do mundo de uma forma tão injusta.
Não conseguia continuar a viver sem a tua presença, sem ti ao meu lado não.

***

Passado algum tempo de baixo da árvore, senti um toque suave no ombro, assustei-me. Virei-me para trás à espera de encontrar alguém, por muito surreal que pareça não estava lá ninguém. Sorri, sorri por saber que não estava só, que ias acompanhar-me sempre e que estarias ao meu lado a apoiar-me. Cheguei à conclusão que nem a morte era o suficiente para me separar de ti. Com amor eterno.

2 comentários:

  1. Olá Joana, belo texto...Excelente....
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  2. Joana!

    Tão boito teu conto , me fez lembrar do escritor Guimarães Rosa:
    "As pessoas que amamos que não morrem,permanecem encantadas"

    Ah! Lindo o poema que me deixaste lá no blog, obrigada!

    Um beijo

    ResponderEliminar